segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Mais do mesmo;


Aquela manhã era apenas mais uma em que ele acordaria querendo voltar a deitar, mas sabia que assim como outras milhares de coisas, essa seria apenas mais uma que ele abriria mão durante o seu dia, o café que fez era tão forte e amargo que só poderia ser uma cria dele e o primeiro cigarro do dia foi a melhor coisa que acontecera nas últimas duas horas.

Por mais que tentasse distinguir os dias e tentasse de maneira desesperada fazer com que cada dia tivesse um gosto, uma cor, um gesto ou até mesmo um pensamento diferente, ele já não conseguia se livrar da incrível maneira tecnocrata como lidava com tudo aquilo que fazia parte do seu universo. Ficava a imaginar se todos tentavam, assim como ele, se livrar das cores, gostos e palavras repetidas.

Colou o ouvido o mais próximo que conseguiu perto do peito e tentou entender em qual compasso batia o seu coração, não conseguiu decifrar qual canção tocava e entendeu que talvez não fosse seu aquele coração que insistia em bater descompassado e sem ritmo, pensou que iria morrer, mas logo depois a idéia da morte desapareceu como um relâmpago e construiu o pensamento de que andamos pelo mundo com corações emprestados de amores contrariados, porque só estes sobrevivem ao tempo e a morte.

Pensou depois sobre seu questionamento sobre as cores, gostos e palavras repetidas, jogou o corpo no antigo sofá que herdara da mãe e pediu numa prece silenciosa uma única frase que pudesse lhe mudar o dia, ou um gosto que pudesse lhe reavivar o prazer de sentir a língua crua no corpo de outro alguém, uma cor que lhe fizesse aposentar os grandes óculos de lentes amarelas escuras que usava, mas não lhe veio nenhum pingo de originalidade.

Arrumou-se lentamente para o trabalho, pensou em uma forma original de sair da vida e achou que até as formas de morrer fossem tediosas demais, ao descer uma velha rua de puro concreto edificado em grandes colunas verticais e desumanas percebeu que as pessoas já não buscam mais nada, andou mais algum tempo sem pensar e na terceira esquina daquela rua decidiu que a partir daquele dia seria o que poucos homens se propuseram a ser nesse mundo, decidiu ser um caçador de diferenças, decidiu ser amor dos pés à cabeça.

5 comentários:

Leveza de ser. disse...

Se desapegue se for o caso, pra ter um olhar ilimitado é preciso voar.
Voar com os olhos também. Eles alcançam grandes medidas...
...e as desmedidas, a imaginação garante!
=]

Anne Elisabeth disse...

belo Blog, belo blog!

adoro ler, e gostei daqui!

;*

ela. disse...

lindo demais ler o que você escreve com a alma.
lindo.

Suspirius disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Suspirius disse...

eu nem li o texto!
nem to afim de olhar agora!

e eu venho falar da saudade..

venha logo embora, anda! anda! anda!

pq saudade com a pessoa no mesmo lugar que vc é uma coisa..
mas com ela longe, é outra!

e eu não quero vc longe!
quero sentir saudade de perto! hehehehe

e nem venha com idéia : vc deve me amar demais D. Sylvia Pillar!
Pq nem chegou a amor ainda... e já tá assim! ( vc é u ó) Te odeio!
e até o ódio é forma de amor! ( como vc mesmo diz)

anda vem me vê e me dá um abraço bem apertado com gosto!

beeeeeeeijo =*